“CarnaVrau”: com deboche, memes e política, leques viram negócio no Recife

Com origem milenar, os leques se transformaram em itens indispensáveis em eventos com o Carnaval

“CarnaVrau”: com deboche, memes e política, leques viram negócio no Recife

Hamsa Dasa. (Foto: Júlio Gomes/LeiaJá)

Com origem milenar, os leques se transformaram em itens indispensáveis em eventos, como o Carnaval. Além de um ório para compor um look ou para afastar o calor, eles se tornaram símbolo da cultura LGBTQIAP+. De vários tamanhos, cores e texturas, os leques se tonaram um negócio para o artista Hamsa Dasa. Apostando em frases com teor cômico, como também político, Hamsa produz e comercializa o ório pelas redes sociais e, fisicamente, na Golpe Store.

“Minha arte não era tão popular. Era mais espiritualista, diferente. Depois, eu comecei a fazer coisas de Carnaval. Vendia arte na rua e tinha uma cunhada minha que fazia órios de Carnaval e resolvemos juntar forças. Comecei a fazer órios como tiaras, entre outras coisas. Nesse período, surgiu a oportunidade de fazer adesivos. Um belo dia, fazendo essas coisas de Carnaval, surgiu um vídeo nas redes sociais. Na época, eu já estava com os leques, mas eram diferentes. Era um leque de bambu, com glitter, mas não fechava as pessoas queriam isso. Isso foi em 2023”, relembra.

A produção artesanal varia entre 30 minutos a até uma hora, a depender do tamanho do leque e complexidade da arte. “No ano ado, eu vendi muito. Mas, neste ano [2025], eu enfrento concorrência. Além disso, eu tenho fibromialgia e isso impacta o meu trabalho. Então, nessa ano, a síndrome me deixou mais lento e não consegui produzir tanto quanto em 2024. No ano ado, eu confeccionei 350 leques. Agora, eu ainda não contabilizei. Estou esperando ar o Carnaval para ter os números certinhos”, contou à reportagem.

Agenda lotada

Vendendo sob demanda, Hamsa ressalta que está com a agenda de pedidos lotada, por isso, a produção está restrita. “Sou eu sozinho para produzir tudo e ainda tem a questão da fibromialgia. Ainda estou produzindo leques, mas que foram pedidos antecipadamente. Não tenho condições de pegar mais nada nesse período de Carnaval, mas, ando essa época, podem encomendar”, brinca.

Os itens seguem uma linha “debochada”, de ressignificação e militância. Entre as frases mais pedidas, segundo Dasa, estão: “Teu c*”, “deixe ela”, “sem anistia” [em alusão ao ex-presidente Bolsonaro], entre outras. “Não faço apenas essas frases, os clientes podem pedir outras frases e até desenhos”, esclarece. Os leques são comercializados com preços que variam entre R$ 63 (pequeno) e R$ 126 (grande).

“As encomendas devem ser feitas com três meses de antecipação e mediante pagamento de 50% do valor total, porque garante que o material vai ser entregue tanto para minha parte, para não ter prejuízo, quanto o cliente. Sou MEI e emito nota fiscal, tudo certinho”, salienta.

Além do Carnaval

A arte de Hamsa Dasa não está restrita apenas aos festejos de Momo. À reportagem, ele fala que, por mais que o item tenha se consolidado nessa época, pode ser encomendado, por exemplo, para o São João e aniversários. “Recebi, uma vez, um pedido para fazer leques para a pessoa distribuir no aniversário, como um lembrança, para as amigas”.

Além disso, o artista fala que temáticas religiosas também aparecem nos leques. “Já fiz Iemanjá, Ritinha, Nossa Senhora. Uma vez, uma mulher me viu vendendo os leques e ficou interessada, mas, ela é evangélica. Então, me pediu para fazer uns [leques] com a palavra ‘Jezabel’, que é quase como um xingamento dentro da religião dela. Fiz e ela deu para as amigas em tom de brincadeira”.